domingo, 27 de setembro de 2015

Os perigos da poluição luminosa - reportagem da DW


É muito raro encontrar boas matérias em português sobre poluição luminosa. O vídeo abaixo é uma importante exceção e foi produzido pela agência alemã Deutsche Welle (DW), para a sua programação voltada ao público brasileiro.

A reportagem, de Maurício Cancilieri e Ceci Leal, é bastante completa: explica o que é poluição luminosa, seus impactos, mostra soluções de iluminação e pesquisas para evitar aumentar o problema. E tudo isso em menos de cinco minutos! Não deixe de ver!





A reportagem foi feita para o o programa Futurando, transmitido em emissoras públicas brasileiras parceiras da DW. Todas as edições também podem ser assistidas diretamente da página da DW.

O Futurando também fez uma matéria interessante sobre novas tecnologias para evitar o ofuscamento por faróis de carro (sim, isto também é poluição luminosa...): Tecnologia "Matrix" revoluciona faróis de carros.




quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Evitando gerar Poluição Luminosa, parte 2: A instalação de luminárias e projetores


Esta é a segunda postagem de uma série que pretende oferecer informações práticas de como podemos evitar gerar poluição luminosa e até reverter a situação, recuperando um ambiente noturno mais saudável, menos nocivo ao meio ambiente e que ainda permita ver estrelas!

A primeira postagem foi sobre a escolha de luminárias. Mas, do que adianta ter o esquipamento correto se ele for mal instalado? Como já colocamos, a boa iluminação deve direcionar a luz apenas para o local que precisa dela. Note que, diferentemente das luminárias, o projetor em si pode produzir o melhor ou o pior efeito em relação à poluição luminosa: tudo depende do modo que ele for instalado.

Os projetores, destes muito utilizados para iluminar placas de lojas e outdoors, dependem crucialmente da instalação correta para evitar gerar poluição luminosa.


Nos esquemas abaixo, adaptados do material disponibilizado pelo IAC, podemos ver as orientações para correta instalação de projetores e luminárias. Para as luminárias, a instalação correta é aquela paralela ao solo. Luminárias tipo globo, jamais!

No caso dos projetores, a melhor situação é aquela onde a parede ou placa é iluminada de cima para baixo, e ainda é colocado um anteparo na parte superior. Além disso, é preciso atentar para o ângulo de orientação do feixe de luz. Resultados ótimos podem ser obtidos se o ângulo de orientação for menor que 10 graus.


Orientações para a instalação de projetores e luminárias. O objetivo, claro, é buscar garantir que a luz seja direcionada apenas para o chão e, no caso de projetores, para a parede ou placa que necessita ser iluminada. Adaptação da figura original disponibilizada pelo Instituto de Astrofísica de Canárias. Clique para ampliar.


Diferentes situações em relação ao ângulo de direcionamento de projetores. A situação ideal e que minimiza a poluição luminosa é direcionar a luz com ângulo menor de 10 graus. Adaptação da figura original disponibilizada pelo Instituto de Astrofísica de Canárias. Clique para ampliar.


O esquema abaixo mostra todas as origens para a poluição luminosa quando uma luminária ou projetor não são adequadamente instalados. Idealmente, a luz deve incidir apenas sobre a área a ser iluminada. Quando a luminária está mal orientada, cria uma zona de ofuscamento: quem estiver caminhando na direção da fonte de luz terá seus olhos ofuscados, ficando mais suscetível a acidentes ou crimes. Esta mesma luz, inadequadamente direcionada, invadirá moradias ou outros ambientes. tipo de poluição luminosa que chamamos de luz intrusa.


Esquema mostrando todos os tipos de poluição luminosa que podem ser gerados a partir de uma luminária mal instalada. Imagem adaptada do original publicado em artigo do Alternatives Journal e também compartilhada na página da IDA. Clique para ampliar.

A luz direcionada para cima, além de representar um gasto econômico sem sentido, impedirá a observação das estrelas. Se o céu estiver com nuvens carregadas, parte da luz será refletida de volta para baixo, criando aquele aspecto desagradável de uma capa alaranjada sobre a cidade.

Além disso, tem a luz que reflete no solo em direção ao céu. Para minimizar esta componente, o ideal seria que o chão fosse o mais escuro possível. Sabemos que esta é uma condição complexa, principalmente quando pensamos em caminhos para pedestres. Assim, é de se esperar que a componente refletida pelo chão não chegue a ser completamente anulada, mesmo nos melhores projetos de iluminação.

Frequentemente, justifica-se a inclinação excessiva das luminárias e o uso de refratores não planos pela impossibilidade de aumentar o número de postes. O fato é que sempre existirá alguma solução para racionalizar o sistema de iluminação sem negligenciar os riscos da iluminação excessiva. Veja abaixo alguns exemplos de luminárias e projetores mal instalados.


Exemplos de luminárias mal instaladas. Nas imagens à esquerda e central, as luminárias estão viradas para a frente e não para baixo! Assim, quem caminha é ofuscado e o chão quase não é iluminado. O poste da esquerda também é alto demais. A luminária nunca deve ficar acima da copa das árvores. Na imagem à esquerda, uma boa luminária torna-se poluente por estar inclinada.



Exemplos de projetores mal instalados. À esquerda, o projetor que deveria iluminar a parede o faz de cima para baixo, de modo que a maior parte da luz é direcionada para cima. À direita, o uso incompreensível de um projetor. A luz colocada desta maneira apenas cega por ofuscamento quem transita, desperdiça recursos ao direcionar luz para cima e nada colabora com a segurança.



 
Caminho para o Auditório Cláudio Santoro (Campos do Jordão, SP), durante uma edição recente do Festival de Inverno. Toda a iluminação da cena está equivocada: uma luminária que não está paralela ao solo, um cartaz iluminado por projetor de cima para baixo e projetores com celofane verde iluminando as árvores e comprometendo inutilmente o ambiente natural! Clique para ampliar.


No entanto, também não adianta selecionar cuidadosamente a luminária e instalá-la com correção se a lâmpada não for a correta para o tipo de aplicação! A escolha racional de lâmpadas deverá ser o assunto da próxima postagem desta série.

Não deixe de ler o primeiro texto da série: Evitando gerar poluição luminosa, parte I: A escolha das luminárias.


domingo, 13 de setembro de 2015

Evitando gerar Poluição Luminosa, parte I: A escolha das Luminárias


Ao contrário de outros tipos de poluição ambiental (das águas e a atmosférica, por exemplo), a poluição luminosa pode ser evitada e até mesmo revertida. Basta que as fontes de luz artificial sejam planejadas racionalmente. Mas, como assim?

A iluminação correta deve incidir única e exclusivamente sobre o local para onde ela foi planejada, com a lâmpada adequada para cada aplicação e apenas durante o tempo em que a luz for realmente necessária. Visando oferecer informações mais práticas de como podemos ajudar a combater a PL, inicio hoje uma série de postagens sobre o assunto. Vamos começar pela escolha das luminárias, incluindo os projetores usualmente utilizados para iluminar placas e afins.

Uma ilustração clássica de diferentes situações de iluminação, originalmente produzida pela Canadian Space Agency, é mostrada abaixo. Podemos ver o céu que seria observado para cada caso. A situação indicada como "Muito ruim" representa aquelas luminárias tipo globo, comuns nas praças brasileiras. Como podemos ver, a luz emitida é ofuscante, e não apenas é difícil observar a pessoa que circula como a visão do céu é totalmente contaminada. Um terço da luz emitida por este tipo de luminária é direcionada para o céu! Na situação ótima, a luz é direcionada unicamente para baixo, iluminando aqueles que caminham nas ruas durante a noite e ainda permitindo a observação das estrelas.


Simulação do céu e conforto de circulação para diferentes tipos de iluminação. Imagem adaptada daquela originalmente produzida pela CSA.


Ou seja, a ideia é escolher sempre luminárias do tipo totalmente limitada (full cut-off) e abandonar aquelas que não oferecem nenhum anteparo para direcionar a luz para baixo (non cut-off). Essa escolha implicaria em maior custo financeiro? Não necessariamente. Algumas luminárias modernas podem até custar mais caro em um primeiro momento. Porém o investimento é compensado pela economia na manutenção e em energia elétrica (luz bem direcionada significa poder escolher lâmpadas de menor potência para uma dada aplicação).

Seguem alguns exemplos de luminárias incorretas e corretas.


Exemplos de péssimas luminárias, que não são capazes de iluminar apenas o local onde as pessoas transitam. Veja o primeiro caso: a luz vai para as laterais e na direção do céu e nada ilumina o caminho! Faz sentido gastar dinheiro e recursos naturais com pontos de iluminação deste tipo? 


Exemplos de boas luminárias, com refratores planos que, caso sejam instaladas corretamente e paralelas ao solo, iluminam apenas a área de circulação, sem causar ofuscamento.


A International Dark Sky Association oferece uma certificação para luminárias "amigas do céu escuro" (dark sky friendly). Enquanto não temos algo assim no Brasil, as luminárias recomendadas no mercado norte americano podem servir como referência. A imagem abaixo, adaptada de material produzido pela IDA, ilustra tipos inaceitáveis e aceitáveis para luminárias e projetores.


Ilustração mostrando exemplos de equipamentos de iluminação inaceitáveis e aceitáveis, do ponto de vista da geração de poluição luminosa. Imagem adaptada a partir do original da International Dark Sky Association (IDA).


No entanto, não adianta escolher as melhores luminárias se elas não forem instaladas corretamente. Este será, espero eu, o próximo tema da série "Evitando gerar Poluição Luminosa".

Para complementar o assunto, o vídeo abaixo mostra uma maneira simpática de simular os efeitos dos diferentes tipos de luminárias utilizando basicamente uma lanterna e aquelas estrelinhas que brilham no escuro. O vídeo, chamado "Vamos acender as estrelas!" está em italiano, mas é totalmente compreensível (e ainda dá para colocar legendas, se necessário).





Animações produzidas pelo Instituto de Astrofísica de Canárias.

Página de notícias sobre Poluição Luminosa (PL), mantida pela astrofísica Tânia Dominici.

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