segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

"A cidade mais iluminada do mundo"


O título desta postagem também é também a frase utilizada nos mecanismos de busca que mais direciona novos leitores a este pretensioso blog. Em particular, a busca tem levado ao post sobre o trabalho da fotógrafa Christina Seely, que registrou cenários noturnos nas 45 cidades mais brilhantes do planeta, selecionadas através de imagens da Terra obtidas do espaço.

Mas o leitor quer saber: dentre todas, qual é considerada a "cidade mais iluminada do mundo"? A resposta para a pergunta é: Hong Kong, na China. E, claro, ser a mais iluminada significa também ser aquela mais contaminada pela poluição luminosa.

Vista noturna de Hong Kong, considerada a cidade com maior poluição luminosa do planeta. Imagem retirada da Wikipedia e de autoria de Base64 (Own work, CC BY-SA 3.0)

Existia resistência em se discutir a questão e ela começou a ser vencida a partir de 2008, quando uma série de pesquisas indicaram, por exemplo, que o céu em Hong Kong chega a ser mil vezes mais brilhante do que em locais com o céu preservado da poluição luminosa. A situação é dramática não apenas nas áreas comerciais: as regiões mais periféricas também apresentam brilho do céu extremamente alterado em relação ao que seria o ambiente natural. Como é sempre discutido neste blog, além de nos afastar da visão das estrelas, a poluição luminosa tem severos impactos sobre o meio ambiente, a economia e a saúde humana. Por isso a situação drástica de Hong Kong precisa ser controlada e a cidade ainda não tem nenhuma legislação para isso. O mais preocupante é que ela não a terá tão cedo...

Em 2011, o governo criou uma força-tarefa para propor soluções de controle da poluição luminosa que levassem em conta a viabilidade para o comércio, a segurança, a percepção dos moradores e o impacto no turismo. Por sua vez, esta equipe realizou pesquisas junto à população e promoveu sessões de consultas públicas. Em 2015, na impossibilidade de chegar a um consenso, foi sugerido um esquema de voluntariado. Assim, a partir de uma série de orientações para boas práticas em iluminação externa, espera-se que a adesão ao combate à poluição luminosa seja feita de modo espontâneo por instituições privadas e públicas. A solução apontada obviamente desaponta pesquisadores e ativistas ambientais, porém as pesquisas de opinião e consultas públicas parecem ter indicado um ambiente desfavorável para a implantação de ações mais efetivas, prevendo punição para os excessos. Principalmente os comerciantes resistem à ideia de limitar a iluminação de suas fachadas e prédios, temendo descaracterizar o que seria um dos principais atrativos turísticos da cidade: justamente o ambiente externo ultra iluminado.


Charge ironizando o trabalho da força tarefa criada para buscar soluções para a poluição luminosa em Hong Kong que, não tendo sucesso em apresentar soluções que acolhessem a todos os interesses, propôs que a adesão ao combate à poluição luminosa seja voluntário. Charge de Harry Harrison (Harry’s View).


A força-tarefa não excluiu a possibilidade de que leis para o controle da poluição luminosa sejam criadas no futuro, mas por pelo menos dois anos a partir de 2015 o foco deve ser no incentivo para a adesão espontânea ao uso racional da luz. A posição conservadora vai na contramão do que vem acontecendo em outros países e cidades, cada vez mais preocupados em criar ferramentas legais que ajudem a combater os problemas causados pela poluição luminosa. Assim, a perspectiva é que Hong Kong permaneça sendo por muito tempo "a cidade mais iluminada do mundo".

As pesquisas sobre a poluição luminosa na região são crescentes e, em particular, existe uma rede de monitoramento do brilho do céu em Hong Kong, cuja página disponibiliza o monitoramento em tempo real, além de informações para a conscientização sobre poluição luminosa e seus diversos malefícios.

Surpreendentemente, o local de pior iluminação em toda Hong Kong é o museu de astronomia e ciências espaciais! Como pode ser visto na imagem reproduzida acima, a área do museu é 1200 vezes mais brilhante do que deveria!


Referências e informações adicionais:



Página de notícias sobre Poluição Luminosa (PL), mantida pela astrofísica Tânia Dominici.

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