domingo, 13 de setembro de 2015

Evitando gerar Poluição Luminosa, parte I: A escolha das Luminárias


Ao contrário de outros tipos de poluição ambiental (das águas e a atmosférica, por exemplo), a poluição luminosa pode ser evitada e até mesmo revertida. Basta que as fontes de luz artificial sejam planejadas racionalmente. Mas, como assim?

A iluminação correta deve incidir única e exclusivamente sobre o local para onde ela foi planejada, com a lâmpada adequada para cada aplicação e apenas durante o tempo em que a luz for realmente necessária. Visando oferecer informações mais práticas de como podemos ajudar a combater a PL, inicio hoje uma série de postagens sobre o assunto. Vamos começar pela escolha das luminárias, incluindo os projetores usualmente utilizados para iluminar placas e afins.

Uma ilustração clássica de diferentes situações de iluminação, originalmente produzida pela Canadian Space Agency, é mostrada abaixo. Podemos ver o céu que seria observado para cada caso. A situação indicada como "Muito ruim" representa aquelas luminárias tipo globo, comuns nas praças brasileiras. Como podemos ver, a luz emitida é ofuscante, e não apenas é difícil observar a pessoa que circula como a visão do céu é totalmente contaminada. Um terço da luz emitida por este tipo de luminária é direcionada para o céu! Na situação ótima, a luz é direcionada unicamente para baixo, iluminando aqueles que caminham nas ruas durante a noite e ainda permitindo a observação das estrelas.


Simulação do céu e conforto de circulação para diferentes tipos de iluminação. Imagem adaptada daquela originalmente produzida pela CSA.


Ou seja, a ideia é escolher sempre luminárias do tipo totalmente limitada (full cut-off) e abandonar aquelas que não oferecem nenhum anteparo para direcionar a luz para baixo (non cut-off). Essa escolha implicaria em maior custo financeiro? Não necessariamente. Algumas luminárias modernas podem até custar mais caro em um primeiro momento. Porém o investimento é compensado pela economia na manutenção e em energia elétrica (luz bem direcionada significa poder escolher lâmpadas de menor potência para uma dada aplicação).

Seguem alguns exemplos de luminárias incorretas e corretas.


Exemplos de péssimas luminárias, que não são capazes de iluminar apenas o local onde as pessoas transitam. Veja o primeiro caso: a luz vai para as laterais e na direção do céu e nada ilumina o caminho! Faz sentido gastar dinheiro e recursos naturais com pontos de iluminação deste tipo? 


Exemplos de boas luminárias, com refratores planos que, caso sejam instaladas corretamente e paralelas ao solo, iluminam apenas a área de circulação, sem causar ofuscamento.


A International Dark Sky Association oferece uma certificação para luminárias "amigas do céu escuro" (dark sky friendly). Enquanto não temos algo assim no Brasil, as luminárias recomendadas no mercado norte americano podem servir como referência. A imagem abaixo, adaptada de material produzido pela IDA, ilustra tipos inaceitáveis e aceitáveis para luminárias e projetores.


Ilustração mostrando exemplos de equipamentos de iluminação inaceitáveis e aceitáveis, do ponto de vista da geração de poluição luminosa. Imagem adaptada a partir do original da International Dark Sky Association (IDA).


No entanto, não adianta escolher as melhores luminárias se elas não forem instaladas corretamente. Este será, espero eu, o próximo tema da série "Evitando gerar Poluição Luminosa".

Para complementar o assunto, o vídeo abaixo mostra uma maneira simpática de simular os efeitos dos diferentes tipos de luminárias utilizando basicamente uma lanterna e aquelas estrelinhas que brilham no escuro. O vídeo, chamado "Vamos acender as estrelas!" está em italiano, mas é totalmente compreensível (e ainda dá para colocar legendas, se necessário).





Animações produzidas pelo Instituto de Astrofísica de Canárias.

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Página de notícias sobre Poluição Luminosa (PL), mantida pela astrofísica Tânia Dominici.

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