segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O ano é 2218...


2018 foi um ano de derrotas e decepção até mesmo com pessoas muito próximas. Buscar a conscientização sobre a poluição luminosa pareceu um tanto sem sentido nesse cenário, em que muitos (muitos mesmo...) declararam explicitamente o desejo de assassinar, torturar, exilar pessoas tão perigosas como... professores, artistas, cientistas... . Declararam considerar o conhecimento científico como questão "de opinião" e, como resultado, foi eleito um negacionista do aquecimento global para a presidência. Desolador.

Falar sobre poluição luminosa implica em uma conversa que frequentemente demanda um olhar delicado sobre a natureza e de muita autocrítica em relação à ação humana no planeta. Autocrítica? Cada vez mais rara no Brasil de 2018.

Porém, desanimamos, mas não desistimos... Como reflexão neste fim/início de ano, compartilho uma experiência realizada durante uma Star Party* no Grand Canyon National Park, um santuário de céus escuros nos EUA.

Naquela ocasião, um tocador de fita cassete, daqueles bem antigos, foi deixado sobre uma mesa durante a noite, sob o céu estrelado. Em um cartaz próximo, encontrava-se a seguinte mensagem:

"Prezado visitante,

O ano é 2218. O mundo não pode mais ver as estrelas por causa da poluição luminosa global.
Você foi enviado de volta ao passado para este santuário de céus escuros.
Olhe para as estrelas.
O que você vê? O que você sente?
Qual é a sua mensagem para o futuro?"


O vídeo abaixo, intitulado "Night Spoken" (Noite Falada), mostra uma coleção de respostas. Está em inglês mas lembre-se que é possível colocar legendas em português.





Qual seria a sua mensagem para o futuro? Como explicar para quem nunca viu estrelas e, especialmente, um céu preservado, a experiência de estar à noite em um lugar distante das luzes artificiais? E como explicar que escolhemos interferir no ritmo biológico de milhões de especies animais e vegetais, incluindo o próprio ser humano, apenas para alimentar o crescente vício em luzes artificiais absolutamente desnecessárias para o nosso bem-estar?

As escolhas estão sendo feitas, assim que é adequado pensar em como explicá-las para as futuras gerações...



*Star Parties são eventos em que as pessoas se reúnem para observar o céu, trazendo seus próprios equipamentos de observação para compartilhar. São bastante frequentes nos EUA, onde há uma significativa comunidade de astrônomos amadores com acesso a bons equipamentos.

sábado, 21 de abril de 2018

Estamos na Semana Internacional dos Céus Escuros 2018! Conheça um pouco do meu trabalho na área #IDSW2018


Estamos encerrando a Semana Internacional dos Céus Escuros 2018 (International Dark Sky Week, IDSW2018). Esta é uma iniciativa iniciada em 2003 por uma estudante norte americana, Jennifer Barlow.

 O objetivo é chamar a atenção para os problemas causados pela poluição luminosa e promover iniciativas simples para minimizá-la. A International Dark Sky Association criou uma página com recursos de sensibilização que podem ser utilizados durante estes dias. Também é possível acompanhar a campanha nas redes sociais, seguindo a hashtag #IDSW2018. O tema deste ano é "Acenda a noite" (Turn on the night).




O blog anda parado, mas não as atividades... Aproveito a IDSW2018 para disponibilizar aqui os artigos que publicamos recentemente sobre poluição luminosa.


Neste trabalho, mostramos como a observação do céu noturno sempre teve importância vital para o desenvolvimento da Humanidade, seja do ponto de vista científico, filosófico ou como inspiração artística. No entanto, a visão das estrelas está em risco: o descontrole no uso da iluminação artificial, provocando a  poluição luminosa, tem feito com que boa parte da população mundial fique  impossibilitada de apreciar um céu estrelado. Deste modo, também se limita a capacidade de compreender a ciência, o processo de construção do conhecimento e as obras culturais inspiradas pela visão do firmamento. A luz artificial inadequadamente utilizada também altera o ciclo natural de vida das plantas e animais, lesando o patrimônio natural. Analisamos os instrumentos legais e certificações existentes para assegurar a proteção da qualidade do céu e de sua visão enquanto parte integrante do patrimônio humano, natural ou cultural. Pretende-se demonstrar que, ainda que o céu noturno não esteja por si só formalmente reconhecido em diversas instâncias oficiais enquanto patrimônio, ele já deveria estar sendo resguardado por fazer parte de sítios e saberes registrados, tombados ou candidatos a procedimentos de conservação e proteção no contexto internacional ou nacional.
Tendo em vista a dificuldade para a articulação de legislações ou regulamentações de controle da iluminação artificial junto ao poder público, a abordagem referente à proteção do patrimônio - natural e/ou cultural, tangível ou intangível, que remete à presença da luz das estrelas - fortalece a demanda, uma vez que pode vir a obrigar a ações urgentes para preservar o nosso acesso à observação do Universo. Como exemplo, ressaltamos a pertinência de procurar proteger dois locais no território brasileiro potencializados pela possibilidade da observação do céu noturno: o Saco do Céu (Ilha Grande, RJ) e o Observatório do Pico dos Dias (Brazópolis, MG).

Neste artigo, ressaltamos a existência de uma lacuna em termos de reconhecimento e proteção a uma certa tipologia de patrimônio no território brasileiro: o astronômico, cujos elementos frequentemente só podem ser devidamente compreendidos sob a luz das estrelas. A mobilização internacional em torno do tema tem sido facilitada por um trabalho conjunto do ICOMOS e da União Astronômica Internacional (UAI/IAU), iniciado em 2004. Assim, argumentamos que é urgente a articulação nacional em torno da identificação sistemática do patrimônio astronômico brasileiro e a discussão coordenada sobre os mecanismos para a sua devida proteção.


Como sempre, estamos disponíveis para esclarecer quaisquer dúvidas e para discussões. Boa leitura e bom final de IDSW2018!

Página de notícias sobre Poluição Luminosa (PL), mantida pela astrofísica Tânia Dominici.

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